2010-04-01

Estação

- Vambora Michele
Gritava Zé da escada da estação, numa aflição sem tamanho como se não pudesse ficar mais um minuto ali parado. E Mi continuava naquele encantamento de como ela tinha o incrível dom de rolar as duas roletas de saída sincronizadamente uma em cada mão.
- Ô mulher se ainda tá ai? Vambora!
E a pequenamulher nem ao menos escutava, rodava e rodava e ria como se na sua frente passasse um dos filmes mais engraçados de Charles Chaplin. Até que, PLIM realidade.
- Já voooooooou Zé
Desceu correndo a escada como se fosse perder a hora do trem, até encontrar seu amado. Aquele no qual não se sabia se ela via uma figura companheira ou paternal. Um homem já, com mais do dobro da sua idade, mas se via nos olhos de Michele uma paixão ardida, um companheiro, um herói e acima de tudo um amigo. Demonstrou isso quando lhe puxou pelo braço no meio das escadarias e lhe pediu um beijo, um daqueles ardentes em que no exato momento se mostrou uma mulher em que sua idade cronologica não dizia.
Na descida pararam em uma banca de jornal, e singelamente Zé começou a ler as notícias para sua amada, num português meio jerundiado mas intendível. E um cuspe de palavras saiu da boca de Mi:
- Dourado, dourado, dourado agora só tem esse homem feio em todos os lugares.
E continuaram a caminhada, assim: Ele só tinha ela, pequena mulher. E a garota só ele, pai-companheiro. E nada mais, nem dinheiro, nem casa, nem comida nem roupa lavada, sobrevivendo o hoje, e rindo do ontem. E há quem diga que sem dinheiro não há vida, não há felicidade. Talvez. Mas existe coisa melhor que a simplicidade ?

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